quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Don Juan E Casanova

Don Juan e Casanova
Ambos sedutores natos. Um era um mito. Outro história. Um deixava rastros de ódio em suas amadas o outro apenas doces lembranças.

Um se preocupava com os resultados de suas conquistas. O outro não!

Para Don Juan era apenas um capricho, tê-las a hora que desejasse.
Com bastante libertinagem e aliado a um falso romantismo.

Talvez o que muitos dizem hoje: "bolo doido, sou do mundo...coisas assim!"

O que faziam? Por que faziam? No que influenciaram os homens?

A priore Don Juan conquista e vence as mulheres. E com isso, deixava para trás suas conquistas. Casanova muito diferente e real. Existiu e tinha como prazer principal
Não magoar nenhuma de suas conquistas. Todos dois tinham algo em comum entre eles e entre a maioria dos homens:

* O prazer da conquista,
* O desafio de ter mais uma mulher em seus lençóis.

Isso encanta muito o Universo Masculino. Embora existam muitos Príncipes Encantados por ai...rs. Muitas mulheres ainda resolvem escolher os Don Juans e os Casanovas da Vida.

Mais Ainda Há uma grande diferença entre Don Juan e Casanova - tipos que muitos confundem.

Casanova é personagem histórico. Andarilho de classe, o cavaleiro de Seingalt (título que deve ao rei de França), apaixona-se, possui a amada e depois volta seu interesse para outra - sem, porém, perder o gosto pela anterior, sem lhe querer mal algum.

Isto se prende a uma auto-educação sentimental que começa quando, adolescente, Casanova passa uma temporada em Pasiano di Pordenone, no Friuli; conhece então Lúcia, de 14 anos, filha do caseiro, que - como narra - vem todo dia brincar, inocente com ele, na cama. Mas, por respeito a ela, por recear desonrá-la, ele se abstém de possuí-la: mas poucos meses depois fica sabendo que um criado da propriedade, "patife", a seduziu, engravidou, e acabou lançando-a na prostituição.

Assim, Casanova condena, em nome da prudência, as boas intenções, a moral da castidade.

Casanova não critica apenas a vanidade de querer decidir, num mundo feito de imprevistos, a tolice de querer governar uma vida que, para o viajante, aventureiro, é por definição aleatória.

A descoberta que faz é mais precisa; induz, justamente, não a entrega ao acaso, mas a formulação de um "sistema", de uma "condução prudente":

..."por que conter o desejo que nos arrebata? Se há delicadeza no cortejar, por que se abster do sexo em nome de preconceitos vãos, que apenas farão mal a todos, ao homem e à mulher igualmente frustrados"?

Don Juan age de outro modo. É uma fantasia corrente, por sinal, atribuir-lhe realidade.

Ora, Don Juan jamais quer amar, ao contrário de Casanova. Nunca o vemos apaixonado. Na brilhante invenção de Lorenzo da Ponte, ele arrola suas conquistas num catálogo, que por sinal, depois será ordenado segundo a condição social dos homens de quem roubou as mulheres. Aliás, a própria posse é de certa forma duvidosa. Ele falha com Donna Anna, de Donna Elvira se desinteressa, a criada desta ele não chega a conquistar, nem Zerlina.

..."porque a Don Juan pouco importa o gozo físico, sexual, o que conta é a vitória sobre a alma, a entrega a ele do desejo. Sensual ele é, e muito, mas o sexual de Don Juan é governado pela honra"...

Mas a honra de Don Juan, deve-se apenas, insistentemente, a si mesmo. Ele a consegue graças as suas conquistas. Porque há um roteiro segundo o qual ele as efetua.

A prática de humilhar o adversário tirando-lhe a mulher, Don Juan a leva ao extremo. Cada mulher (ou homem?) que ele desonra aumenta os seus títulos. Acresce o seu demonismo.

O demonismo em Don Juan, é uma categoria ética e política. Ética, porque ele mente sem a menor vergonha quanto ao que aparece como mais elevado e nobre na relação entre seres humanos: nas questões de amor, que mais confiança, absoluta mesmo, exigem.

Don Juan, nas mais famosas versões, de Molière e Mozart, termina agarrado pelo demônio. Ele visa ao poder em suas relações (aparentemente) amorosas: sacrificar as mulheres à sua glória, pela glória de dominar os homens. Os valores morais perdem-se em favor dessa meta suprema, a política ocupando o lugar dos afetos.

Temos, de qualquer forma, entre Don Juan e Casanova, uma diferença de atitudes no tocante à conquista e ao gozo.

O de Casanova é, sobretudo cauteloso. A cada passo de sua carreira esse homem, que quer brilhar (e não acumular dinheiro: sua prudência não é burguesa; quer dinheiro para gastar, não para ter), monta o seu uso dos prazeres: como tê-los em maior quantidade, como evitar riscos - doença venérea, aborrecimentos. Aliás, está mais empenhado em esquivar à doença venérea, que lhe fará mal, do que em evitar filhos, que ficarão para a mulher. Daí também que não conteste a relogião e a política - embora tenha passado tempos na cadeia dos Piombi, e durante muito tempo não pudesse retornar à Veneza.

Já Don Juan, em sua carreira, em sua corrida (pois o tempo é rápido: mais dez, só esta noite), traça um destino que escapa ao humano, e por isto, não tem o que fazer com a prudência, a medida, as precauções. A hybris o condena, o fogo traga o fogoso.

Don Juan escapa ao humano, mas também, já de início, por seu nascimento: personagem sem existência real ou histórica.

Porém, e este talvez seja o ponto a realçar, não cessa a pergunta sobre sua realidade histórica. Constantemente, em seu caso, a vida parece imitar a arte; essa figura literária nos induz a ver imitações, a decifrar condutas mediante a ferramenta do mito, que nós, espectadores do social, impomos como rótulo a alguns.

Resta perguntar, somente, se durará muito esta experiência, esta relação com o ficcional, que é um dos alicerces para Don Juan. Outro alicerce, aliás, é que ele parece permitir a compreensão de comportamentos e atitudes, que vemos e temos; parece: porque os Don Juans de hoje dificilmente terão a idéia de honra, o demonismo, que fez fugurarem os do século XVll e XVlll.

As experiências que nos vinculam a Don Juan são, assim, tanto a psicológica quanto a literária, datadas em seu início, e - quem sabe? - talvez no seu fim; mas por quanto tempo elas ainda viverão, não sabemos, - ainda mais porque o nome fica, o seu fascínio igualmente, depois que se esvaneceram as condições de sua criação e definição.


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